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CRÔNICA
por Suzane

MOTORISTAS x MOTOCICLISTAS
É POSSÍVEL UMA CONVIVÊNCIA PACÍFICA




foto: Douglas Shineider

         Motoristas reclamam dos motociclistas que reclamam dos motoristas.
         Ambos porém, reclamam dos pedestres e ciclistas, que reclamam dos motoristas e motociclistas. Motoristas reclamam dos próprios motoristas.

         Na verdade estamos falando de seres humanos.
         O ser humano é racional? Eu diria que quando estamos no trânsito, não. Podemos ser impulsivos, emotivos, mas, raramente, racionais...

         Não vamos entrar na questão do que diz a lei, mas sim do que acontece na realidade.
         As motos são veículos que efetivamente existem e são mais rápidos que carros. Assim como as bicicletas, que são mais lentas e um perigo para o motociclista, já que é como se fosse um pedestre mais rápido, ou seja, totalmente imprevisível, visto que são os que menos respeitam as leis de trânsito.

         Porque andamos de carro, moto ou bicicleta? Pela nossa necessidade de nos locomover. Pois bem... assim como eu tenho necessidade de chegar em algum lugar, durante meu percurso, cruzarei com milhares de outras pessoas com a mesma necessidade; porém, com objetivos, equipamentos e habilidades diferentes, de forma que é preciso respeitar os limites de cada um.

         O TRÂNSITO É UM LUGAR PARA SER COMPARTILHADO, E NÃO DISPUTADO
         Nunca houve tanto motociclista! Nunca houve tanto carro na rua. Nunca houve tanto tráfego. Claro... a população aumenta. E nada é feito para que as ruas suportem o crescente número de veículos. Com isso, aumenta-se a disputa por um espaço. E o bom senso vai sendo deixado de lado.

         Estamos em um país de terceiro mundo, onde não existe fiscalização, leis não são respeitadas, culpados não são punidos, a pobreza de uns leva à insegurança de outros, e as leis que imperam são a da imposição e do mais forte. Levar vantagem é o lema.   O princípio da convivência em sociedade/comunidade respeitando a individualidade de cada qual, é deixado de lado e fica difícil saber o limite do respeito/desrespeito às leis e ao próximo. E para não se sentirem otários, motoristas corretos acabam por também cometerem infrações.

         No trânsito mal planejado do Rio de Janeiro, onde sinais não são sincronizados e retornos são fechados, o caos é cada vez maior, deixando o povo improdutivo e irritado. O stress do cotidiano muitas vezes faz com que motoristas e motociclistas descarreguem no volante e acelerador suas frustrações. Tudo isso faz com que as pessoas se tornem arrogantes e intransigentes no trânsito. E nessa hora falta inteligência e sensatez. Mas é aí que precisamos ser racionais.

         O trânsito brasileiro mata mais que uma guerra armada. E é esse um dos pontos: a maioria dos motoristas não tem consciência de que tem uma arma que mata nas mãos e não tem habilidades para manuseá-la. Quanto maior a potência do motor ou o tamanho do carro, maior o risco, pois mais valente e poderoso o motorista se sente, tornando-o prepotente. O trânsito está cada vez mais violento e não é novidade acontecer uma morte por causa de briga no trânsito.

         A moto é efetivamente um meio de transporte utilizado não apenas por motoboys, mas também por mulheres, playboys, idosos e famílias inteiras, Na maioria das vezes, quando pensam em fazer leis para as motos, lembram apenas dos "motoqueiros" e das vias expressas, não interessando se esses veículos são utilizados por necessidade ou lazer, se são scooters, customs, esportivas ou big trails, e sequer lembrando das ruas de mão dupla, paralelepípedos ou de terra. Muitas vezes a utilização de uma moto nem é por opção, mas por falta dela.
         E por falta de segurança, ainda é um meio de transporte pouco utilizado e, pior, marginalizado pelos motoristas.

         E a guerra é declarada:
         Motoristas jogam o carro em cima de motociclistas que chutam retrovisores dos carros.
         Motoristas reclamam quando uma moto passa pelo corredor.
         Motociclistas reclamam que os motoristas mudam de faixa bruscamente.
         Motoristas reclamam quando uma moto anda em sua frente, no meio da faixa.
         Motociclistas reclamam que os carros andam em cima da linha divisória das faixas esperando para entrar no lado que andar mais rápido.
         Motoristas reclamam por serem ultrapassados por uma moto à direita enquanto os Motociclistas reclamam da mesma coisa.
         Motoristas têm medo de serem assaltados por Motociclistas com carona, que têm medo de serem assaltados por carros com mais de um ocupante. Ambos porém, têm medo de serem assaltados por pedestres. Pedestres têm medo de serem assaltados por pedestres. Podemos ser assaltados à pé, de moto, de carro, ou mesmo sem estar presentes.
         Motoristas chegam a tratar motociclistas como se fossem marginais, condenando-os por alguma avaria no carro, como se não existissem colisões entre carros e pedestres não arranhassem suas pinturas.
         Motoristas reclamam dos motociclistas nos pedágios. E estes reclamam por estarem pagando-o. Já vi motorista apontar arma para um motociclista no pedágio, porque este, após tirar as luvas, estava retirando o dinheiro de um saco plástico que protegia o dinheiro da água da chuva. E eu estava atrás.
         Os motoristas do Rio de Janeiro mudam de faixa todo o tempo como se estivessem disputando posições. Alguns motoristas chegam ao ridículo de andarem para o lado só porque viram um espaço, em vez de andarem para a frente, aumentando assim o consumo, desgaste dos pneus, o trânsito e a irritabilidade de quem está em volta. Costumo dizer que o motorista carioca "anda de lado".
         A disputa por "posições" dos carros também acontece em afunilamentos, em saídas ou entradas de garagens e vagas, e infelizmente, a maior parte dos motoristas que desrespeitam as leis ultrapassando pelo acostamento ou não respeitando sinais, são os que são pagos para estarem ali dirigindo e por isso deveriam ser os mais corretos: os profissionais de ônibus e vans que nunca respeitam a fila.
         Motociclistas têm mais medo de serem derrubados por um carro, que um Motorista ter seu carro amassado por uma moto.
         Motoristas se revoltam com o que um motociclista sequer fez. É o preconceito.
         Na verdade, o que acontece, é que os motoristas ficam chateados por estarem parados no trânsito enquanto os motociclistas estão indo embora para casa.
         E essa é uma disputa sem nexo. Ora, não é o motociclista que é impertinente, mas o trânsito em si!

         Ao ser o primeiro a parar em um sinal, o motociclista corre sério risco de ser atropelado por carros, vans e ônibus que não respeitam a sinalização. E mesmo que estes parem, o que está atrás dele é capaz de ultrapassá-lo para passar o sinal vermelho, sequer vendo que tem uma moto parada ali. O mesmo acontece quando um sinal abre.
         Andar no meio de uma faixa atrás de um carro no Rio de Janeiro é cair em buraco na certa.
         Andar atrás de ônibus e caminhões de lixo é suicídio e insano.
         E quando uma moto anda na faixa da direita, leva fechadas todo o tempo, além de ser jogada para o meio fio.
         Ficar parado no trânsito atrás dos carros debaixo de sol de 40o, com calça comprida, casaco, luvas e capacete, e cheirando diesel, não é racional. E seria absurdo ficar parado atrás dos carros debaixo de chuva, molhando documentos, tomando banho dos carros que passam em direção contrária e caindo em buracos, se os próprios carros ocupam os espaços vazios.
         Quase que diariamente, em meu trajeto para casa enquanto estou na moto, fico com 4 carros vindo em minha direção sendo dois deles na contra-mão e dois deles nos acostamentos. Lei? Multa? Fiscalização? Quê isso???

       A questão não é tratar os motociclistas como se fossem marginais e bandidos. Estes sim, fazem questão de burlar as leis.


foto: Douglas Shineider

       TUDO O QUE UM MOTOCICLISTA QUER, É QUE O MOTORISTA USE OS RETROVISORES, SETAS, ANDE NO MEIO DA FAIXA E NÃO JOGUE COISAS PELA JANELA. OU SEJA, REGRAS BÁSICAS DA DIREÇÃO. JÁ O MOTORISTA, QUER QUE O MOTOCICLISTA DEIXE DE EXISTIR.
       O motociclista, por sua vez, precisa respeitar a necessidade que os carros têm de mudar de faixa.

       Para que essa briga diminua, é preciso educação na base. Porém, o que vemos são pais ensinando aos filhos a levarem vantagem sobre todos para que estes não sejam otários.

       Mesmo quando estamos em uma pista de corrida, disputando espaço a quase 300 Km/h, existem regras a serem seguidas, e no trânsito essas regras têm que ser conscientes.

       Para melhoria dessa disputa no trânsito, deveriam sim existir faixas especiais para veículos de duas rodas juntamente com uma campanha de conscientização e educação ao trânsito, além de apoio e incentivo fiscal para venda e utilização de veículos de duas rodas, o que diminuiria o tráfego e a poluição. Deveriam existir leis diferentes para cada tipo de via. Algo impensável para o Brasil.
       E não é possível querer imitar as leis de países desenvolvidos. Nossa realidade é outra, a começar pela educação nas escolas e passando pelas auto-escolas, que aqui não ensinam ao motorista como andar a 100 Km/h nem a se defender de um acidente.
       Só mesmo por causa da insegurança é que existem tão poucas motos no Rio de Janeiro.

       É impossível se criar uma lei que sirva para todo um país de dimensões continentais como o nosso, ou até mesmo para uma cidade em que temos vias expressas, vias de mão dupla sem faixa, ruas esburacadas e de terra, e até carroças puxadas a mulas no caminho. É impossível se criar uma lei que será seguida por todos os cidadãos, quando muitos deles sequer sabem ler. É impossível se ter gente para verificar se os cidadãos estão seguindo as leis.
       Porém, é possível para a maioria, se utilizar do bom senso para definir como agir a cada momento.

       É triste assumir, mas como viajante, posso afirmar que o motorista carioca é um dos mais mal-educados do Brasil. E o trânsito, o mais desorganizado.
       É claro que não podemos generalizar. Existem tanto motoristas quanto motociclistas corretos e que sofrem com o preconceito de alguns e prepotência de outros.
       Mas a guerra entre Deus e o Diabo sempre existirá. Cabe a cada um de nós ser consciente e escolher de que lado ficar enquanto políticos falam abobrinhas para que o povo perca tempo discutindo e esqueça os problemas que de fato existem e as autoridades não tomam providências funcionais.

       Provocar a ira não é a solução. Temos que ter mais compreensão, pois quase todos queremos um convívio harmonioso.

       Sou piloto profissional, mas não me sinto otária ao deixar outros motoristas entrarem em minha frente.
       É uma questão de inteligência, sensatez e respeito ao próximo. Nessa hora temos que ser racionais e cordiais. Sou motorista, sou motociclista, sou clclista e pedestre. E carioca.

      POR UM TRÂNSITO MELHOR.


junho de 2008 para o Jornal do Brasil

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